Em entrevista a ÉPOCA, psicólogo da Universidade de Minnesota diz que há motivações egoístas e filantrópicas por trás de toda boa ação

“Os voluntários fazem bem para si ao fazer bem para o outro”

MARIANA QUEIROZ BARBOZA  REVISTA ÉPOCA  10/08/2017

O psicólogo americano Mark Synder, estudioso do voluntariado e do altruísmo (Foto: Divulgação/University of Minnesota)

O psicólogo americano Mark Snyder, estudioso do voluntariado e do altruísmo (Foto: Divulgação/University of Minnesota) . Professor e pesquisador do Centro de Estudos do Indivíduo e da Sociedade, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, o psicólogo americano Mark Snyder se dedica a entender as motivações por trás do voluntariado e do altruísmo há mais de 20 anos. Snyder chegou à conclusão de que fazer o bem para a sociedade está “intimamente ligado” à busca por uma satisfação pessoal. Em entrevista a ÉPOCA, ele diz que, para atrair doadores e voluntários, as organizações não governamentais devem mostrar com clareza que “compartilham dos mesmos valores, preocupações e objetivos que as pessoas a quem elas estejam pedindo dinheiro e tempo”.

ÉPOCA: Precisa esperar que algo de ruim aconteça para que elas decidam se dedicar a alguma causa?
Mark Snyder –
 Há muitos caminhos que levam ao voluntariado. Para algumas pessoas, é uma preocupação por uma causa que tenha tocado suas vidas, como uma doença na família. Para outras, é uma preocupação com um assunto que afeta suas comunidades, como a pobreza, ou a sociedade como um todo, como o meio ambiente. Em todos os casos, os voluntários buscam fazer o bem para melhorar a vida dos outros, para trabalhar por um objetivo comum e para fazer do mundo um lugar melhor. Mas, além do desejo de fazer a diferença e se sentir útil, os voluntários também são motivados por preocupações pessoais, que vão desde fazer novos amigos até aumentar a autoestima ou avançar na carreira. Então, o ato de voluntariar-se reflete a união de motivações para fazer bem aos outros e a si mesmo.

ÉPOCA – Os voluntários trabalham para ter algo em troca ou são motivados pelo sentimento de puro altruísmo?
Snyder –
 Embora seja fácil colocar a questão em termos de “um ou outro” – altruísmo de um lado, egoísmo de outro –, o fato é que é uma mistura de ambos. As pesquisas mostram que, para muitos voluntários, inclusive aqueles que se dedicam por longos períodos de tempo, as duas preocupações estão intimamente ligadas. Ou seja, eles fazem bem para si ao fazer bem para o outro.

ÉPOCA – Quais são os principais benefícios do voluntariado, do ponto de vista da psicologia?
Snyder –
 Há uma variedade de benefícios proporcionados pelo trabalho voluntário, e isso inclui impulsos na autoestima, na valorização de si mesmo, na aquisição de novas habilidades, novos amigos, melhor bem-estar psicológico e ainda melhor saúde física e uma vida mais longa.

ÉPOCA – Os brasileiros, em geral, são muito desconfiados, especialmente diante de tantos escândalos recentes de corrupção, e isso se estende ao desejo de contribuir para ONGs e outras iniciativas da sociedade civil. Como as organizações podem construir uma relação de confiança com a sociedade?
Snyder –
 É importante que as organizações sejam claras na mensagem e mostrem que compartilham dos mesmos valores, preocupações e objetivos que as pessoas a quem elas estejam pedindo dinheiro, os doadores, e tempo, os voluntários. É fundamental que governos que procurem motivar altos níveis de engajamento cívico promovam também uma sensação de que tais atividades refletem um comprometimento compartilhado com a sociedade e seu bem-estar, e não uma maneira de aliviar os governantes da obrigação de lidar com os problemas da sociedade.

ÉPOCA – Nos últimos 20 anos, mudou a forma como as pessoas se dedicam ao voluntariado? Como o tema será tratado no futuro?
Snyder –
 Recentemente tem ocorrido uma expansão nas formas pelas quais as pessoas podem e se voluntariam. Cada vez mais, grandes organizações formalmente estruturadas recebem apoio de pequenos grupos informais de base, como vizinhos que se ajudam mutuamente. Além disso, num mundo de mídias sociais, muitos voluntários passaram para a internet e ajudam outras pessoas on-line, por exemplo, fornecendo informações em enciclopédias on-line e em sites de perguntas e respostas.


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