Equidade Racial, Voluntariado Empresarial e Mercado de Trabalho

 

Não é de se estranhar que, mediante diversos relatos que têm surgido sobre discriminação racial em todo o mundo, 2015 até 2024 foi declarada pela ONU, como a década do Afrodescendente. Este cenário, segundo Daniel Santa Cruz, da Santo Caos, “que se estende, em especial no Brasil, onde ainda há pessoas que encaram as repercussões sobre racismo e preconceito – que têm se tornado cada vez mais constantes –, como “mimimi”. É urgente trabalhar a Inclusão Racial.”

Para superarmos a condição de um país tão desigual, a questão racial é certamente um dos temas que precisa, de maneira urgente, receber toda a dedicação! Atualmente, mais da metade (50,7%) da população brasileira é negra. Mais de 70% dessa parcela vive em situação de extrema pobreza. As pessoas negras representam 71% das vítimas de homicídio e 61,6% da população carcerária. Um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no país. 65,3% das mulheres assassinadas no Brasil e vítimas de agressão são negras.

Compreender que existe desigualdade por conta da cor da pele, e aceitar que existe o racismo, é o primeiro passo para buscar uma equidade racial. A abolição da escravatura no Brasil, aconteceu em 13 de maio de 1888, há mais de 130 anos, mas diferenças sociais e econômicas entre negros e brancos continuam enormes. Mesmo os negros serem a metade da nossa população, ainda são minorias nos cargos mais importantes de empresas e nas salas de aulas das universidades, tanto como alunos e certamente também como professores. Temos ainda poucos negros ocupando espaços de poder e muitas dificuldades de acesso e desenvolvimento no mercado de trabalho.

As oportunidades são absurdamente distintas, diferentes. Incluir o tema da diversidade racial nas empresas é fundamental. Isto fica bem claro no estudo, Black In – Como Engajar as Empresas com a Diversidade Racial, da Santo Caos, onde especialistas, gestores de RH, indivíduos comentam, opinam em como conectar pessoas e empresas ao tema da equidade racial.

Estrategicamente o voluntariado empresarial pode ser ferramenta para promover a equidade e o conhecimento e posicionamento sobre o tema. Práticas de voluntariado fortalecem as iniciativas promovidas por organizações negras ou lideradas por negros, fomentam o empreendedorismo, e promovem a quebra de um paradigma de que no Brasil exista uma convivência harmoniosa entre todas as raças e que não existe racismo. Sabemos, não só pela observação, mas também por dados e pesquisas isso é um mito. Ainda temos uma sociedade preconceituosa e ainda buscamos soluções paliativas.

A Consultoria Santo Caos vem trabalhando e estudando engajamento, e mapeando ao longo do tempo as diversas variáveis que impactam no engajamento dos empregados com as empresas. Algumas são previsíveis: salário, benefícios, comunicação, liderança etc; outras, nem tanto.  É o caso, por exemplo, da diversidade racial e do voluntariado corporativo.

Em 2017 realizou um estudo que recebeu o nome de Além do Bem. A investigação trabalhou sobre a hipótese de que os voluntários são, pessoas mais engajadas que a maioria. Afinal, fazem o que fazem sem nenhum tipo de remuneração. Mas será que isso se reflete no engajamento com a empresa? As descobertas mais relevantes do Além do Bem mostraram que não somente o voluntário se desenvolve com as ações que participa, em uma relação mais de troca que de doação, e que envolve aprendizado, empatia, desenvolvimento de competências.  Mas também que ao participar de ações de voluntariado pela empresa existe um ganho, em média, de 16% do seu engajamento com a corporação onde trabalha, em relação aos não-voluntários. Por coincidência ou não, no estudo Black In que contou com a importante colaboração da Faculdade Zumbi dos Palmares, 16% também foi o aumento médio de engajamento observado nos empregados (negros e não-negros) de organizações que valorizam a diversidade racial, em comparação com as que não a praticam.

O que é possível encontrar de ponto convergente entre essas relevantes descobertas é que tanto o voluntariado quanto a diversidade, sejam de raça ou gênero, impactam diretamente em vários indicadores de engajamento. A conscientização aumenta, pois, a organização passa a conhecer melhor seu público interno e respeitar suas particularidades, ao passo que a pessoa entende melhor onde a empresa quer chegar. Há um estímulo do compromisso quando existem metas estabelecidas em relação à diversidade e aos programas de voluntariado. O sentimento de fazer parte, de pertencimento cresce, pois, as pessoas passam a se integrar melhor e trabalhar melhor em equipe, seja por que se construiu uma equipe com mais diversidade racial, seja porque se formaram times de voluntários. Acontece um substancial aumento do orgulho, pois todos passam a ter uma clareza de propósito e de que juntos estão construindo algo relevante para a sociedade.  E por fim com esses valores bem estabelecidos o compartilhamento é afetado pela maior tendência de ser porta-voz, de falar e divulgar positivamente as iniciativas da organização.

Quantos colegas negros trabalham com você? Quantos desses estão em posição de liderança? Um estudo feito pelo Instituto Ethos mostrou que a maioria desses profissionais ainda ocupam cargos mais baixos, como aprendizes (57%) e estagiários (28,8%). Em contrapartida, nos níveis de gerência e executivos esse número cai para 6,3% e 4,7% respectivamente, e ainda, chega a representar uma diferença de 94,2% entre brancos e negros no quadro executivo e 94,8% no conselho de administração. O Instituto Ethos, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT)e oInstitute for Human Rights and Business (IHRB)com o apoio do Movimento Mulher 360e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), deram origem a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero a fim de impulsionar a promoção da diversidade e da igualdade racial e de gênero no mercado de trabalho.

A Coalizão Empresarial Nacional sobre Equidade de Gênero e Raça pretende:  Estimular a promoção da diversidade e da equidade racial e de gênero no mercado de trabalho, especialmente para reverter o cenário atual de sub-representação em cargos de liderança;  Engajar, mobilizar e articular empresas, poder público e sociedade civil para juntos promoverem políticas, práticas e ações mais inclusivas com foco em gênero e raça; Compartilhar e disseminar boas práticas e inovações na promoção e gestão da equidade de gênero e raça; Influenciar políticas públicas em um esforço coletivo para superar a discriminação de gênero e raça; Disseminar práticas e políticas de enfrentamento a todas as formas de violências e discriminações de gênero e raça no ambiente corporativo.  E ainda, desenvolver alternativas para superação das dificuldades enfrentadas pelas empresas.
Trabalhar diversidade racial e voluntariado de maneira conjunta, portanto, pode potencializar ainda mais esses gatilhos de engajamento. Já parou para pensar num grupo de afinidade racial podendo realizar ações voluntárias em organizações ou comunidades predominantemente negras? Ou, num movimento contrário, a convivência com grupos periféricos estimulando a criação de um programa estruturado de voluntariado, com impacto social real e mensurável?

Sem dúvida, as possibilidades são muitas, e os dados estão aí para comprovar a potência da diversidade, do voluntariado e do engajamento. Igualdade só se consolidará quando as medidas de equidade forem tomadas. O voluntariado nos permite participar ativamente dessa causa, promovendo mais oportunidades para todos. artigo Silvia Naccache 

Saiba mais:

 http://santocaos.com.br/biblioteca-santo-caos.html

https://equidade.org.br/

 


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